Antônio Sapateiro

Nasceu entre 1880 e 1892 / Faleceu em 1940
Recifense, compositor, tocou trompete e bombardino na Banda da PMPE sob regência do Capitão Zuzinha.

Compôs Luzia no Frevo, gravada por:
* 1934, Pixinguinha e o grupo Diabos do Céu;
* 1960, Maestro Zacarias e sua Orquestra;
* 1968, Jacob do Bandolim;
* 1972, Banda da PMPE (LP: O Tema É Frevo-Hugo Martins);
* 1983, Sivuca e sanfona.

O que havia de tão original em Luzia que diferentes interpretes gravaram o Frevo? Genial intuição criativa que traduz o Brasil? Se pergunte: para um compositor pouco conhecido como Antônio Sapateiro desenvolveu a habilidade de tornar sua composição acessível a diferentes arranjos, até mesmo para diferentes grupos de instrumentos? Vamos a 05 gravações:

AUDIÇÃO I
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Luzia no frevo, Antônio Sapateiro:
Pixinguinha com Diabos do Céu, 1933

Luzia no Frevo é a música mais conhecida de Antônio Sapateiro. Carregada do emblemático sentido polifônico, toma por completo a audição conseguindo sintetizar, para os ouvidos mais atentos, vários elementos de expressão que traduzem nosso original modo de ser com único sotaque musical: recifense.

Com arranjo e regência de Pixinguinha temos aqui uma das primeiras gravações de Frevo de Rua (1933). Levando em consideração que um gênio da Música Popular Brasileira foi o primeiro a ver o grande valor musical contido na composição do Antônio Sapateiro, vale a pena se deixar levar por Luzia no Frevo e mergulhar num modelo seminal de composição. Pixinguinha interpreta quase como uma marcha, mesmo assim consegue conduzir com graciosidade e leveza as várias nuances que a composição exige do interprete.

Pixinguinha foi o primeiro a reconhecer o valor musical em Luzia no Frevo e seu arranjo é algo tão original quanto a composição o que faz da interpretação do grupo Diabos do Céu uma verdadeira aula.

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AUDIÇÃO II
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Luzia no Frevo de Antônio Sapateiro:
Zacarias e Sua Orquestra, 1960

Aristides Zacarias, paulista, instrumentista, arranjador e maestro. Foi um dos maiores amantes do frevo e também um dos seus grandes divulgadores. Segundo o pesquisador Abílio Neto o Maestro Zacarias merece homenagens na terra do frevo. O pesquisador chega a agradecer a memória do Maestro, uma vez que seu trabalho como instrumentista, arranjador e regente tornou possível o registro musical de vários frevos com um sotaque fiel a imagem musical criada pelos compositor.

O reconhecimento dado pelo pesquisador Abílio Neto ao discernimento estético e a visão técnica musical sobre a importância e qualidade que o trabalho do Maestro Zacarias e Orquestra doou ao Frevo é inegável. No arranjo e interpretação de Luzia no Frevo é possível perceber que a interpretação dada foi feita de tal modo a exaltar a arte composicional do autor (Antônio Sapateiro) tornando evidente a riqueza de detalhes na obra.

O Maestro Zacarias tornou evidente que tocar Frevo tem mais relação com desenvolvimento técnico-interpretativo do que ter de necessariamente ser recifense ou pernambucano. Com muito talento o Maestro paulista conseguiu, com sua Orquestra, uma interpretação impecável, executando Luzia com sotaque típico pernambucano, não deixando nada a desejar quanto a pegada. Algo que possivelmente tornará a acontecer com outros grupos de fora.

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AUDIÇÃO III
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Luzia no Frevo, de Antônio Sapateiro, com:
Jacob do Bandolim, 1968

De modo sublime o instrumentista mostra no registro gravado infinitas possibilidades de improvisação interpretando Luzia no Frevo, mas no “Bandolim”. Essa inovação traz outra ainda mais indicativa. Jacob consegue criar uma ambiente de improvisação, sem amarras, livre de rótulos e mantendo ligação com o tema central, ou seja, fraseados que identificam Luzia no Frevo. O clímax chega a ser meditativo, expansivo e elegante tornando original o modo como Jacob percorre, com seu Bandolim, os meandros sugeridos pela composição de Antônio Sapateiro. Umas das mais belas combinações de gênios que já ouvi!

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Luzia no Frevo – interpretação de Jacob do Bandolim
Veja texto do Canal Choro e Poesia  

Choro e Poesia
12,6 mil inscritos
Raríssima gravação do frevo “Luzia no Frevo” por Jacob do Bandolim, realizada em 16/09/1968, em sua casa de Jacarepaguá durante o sarau que foi oferecido ao pianista russo Sergei Dorenski.

“Quase com certeza a presença do pianista sugeriu a Jacob, ao improvisar, incluir uma longa citação da canção russa “Olhos Negros”, que fez a plateia prorromper em palmas de aplauso.” (Hermínio Bello de Carvalho).

“…a extrema criatividade de Jacob na arte do improviso (…), atestando que nem só Bach e os músicos de jazz são mestres nessa arte.” (H.B.C.)

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AUDIÇÃO IV
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Luzia no Frevo, de Antônio Sapateiro:
Sivuca (sanfona – solo)

Nesta interpretação, como na anterior, o instrumentista trabalha com um instrumento que não faz parte do naipe utilizado em arranjos para Frevo. Nisso se mostra a genialidade do instrumentista em adaptar uma nova possibilidade de interpretação, no caso a sanfona, para execução de Frevo de Rua. Ao mesmo tempo demonstra a amplitude da intuição criativa do autor (Antônio Sapateiro).

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AUDIÇÃO V
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Luzia no Frevo, de Antônio Sapateiro:
Banda PMPE, CD O tema é frevo, vol 01

A Banda da PMPE está ligada ao próprio desenvolvimento e consolidação do Frevo, fundada em 1873. nesta versão, gravada para a série “O Tema é Frevo”, a interpretação é voltada para timbragem acústica, próximo a sonoridade alcançada na rua, em marcha.

Outro importante dado:
O Programa “O Tema É Frevo”, e a série de discos “O Tema É Frevo” ambos produzidos pelo radialista, pesquisador, compositor Hugo Martins. Ele realiza o programa há 54 anos pela Rádio Universitária.

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SIGNIFICADOS
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O nome cumpri o significado comprovadamente nas cinco audições


Luzia
: Significa “a luminosa” ou “aquela que irradia luz”. Teria se originado a partir dos elementos gregos lyke, luc ou luk, que deram origem ao latim lux, que significa “luz”  (Dicionário de Nomes Próprios).

Luzia vem do verbo luzir (dar luz. Irradiar claridade. Brilhar, resplandecer). O mesmo que: esplendia, prefulgia, prefulgurava, brilhava, cintilava, lucilava, luciluzia, resplandecia, rutilava (dicio.com.br).

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Gravação de Luzia no Frevo (1932)
Pixinguinha e Diabos do Céu
(extrato texto Abílio Neto)

No fim do ano de 1932, Pixinguinha resolveu criar o seu próprio grupo de músicos para animar festas carnavalescas e também gravar frevos e marchas, sendo os frevos somente aqueles instrumentais. Quanto às marchinhas, fazia as orquestrações para os cantores da época. Esse seu grupo boi batizado por ele de “Diabos do Céu”, um conjunto de oito músicos, todos oriundos do “Grupo Velha Guarda”.

E foi assim que, em 1933, Pixinguinha gravou como arranjador e regente o primeiro frevo instrumental com o “Diabos do Céu”.

Não é preciso que se pesquise muito para se chegar à conclusão de que três dos maiores músicos do século XX eram fãs ardorosos do frevo pernambucano: Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Sivuca. E que os três tinham uma admiração enorme por aquele que foi o mais humilde dos mestres do frevo: Antônio Sapateiro, o homem que levou para a música a simplicidade do nome do seu ofício de sobrevivência que era a arte de consertar sapatos.

Pouco se sabe sobre o recifense Antônio João da Silva, o Antônio Sapateiro. Pesquisei muito para apurar que ele nasceu em 1892 e faleceu em 1940. E que tocou trompete e bombardino na gloriosa Banda da Polícia Militar de Pernambuco sob o comando do Capitão Zuzinha, o aclamado Pai do Frevo.

Esses grandes músicos de que falei achavam que Antônio Sapateiro se destacava pela riqueza melódica de suas composições. Mas que composições eram essas se quase todo mundo só conhece dele a famosa Luzia no Frevo?

Em um trabalho que fiz há alguns anos consegui relacionar mais cinco frevos desse mestre:

…………………….. 1) Melancolia;
…………………….. 2) Metralhadora Pesada;
…………………….. 3) Recordação;
…………………….. 4) Fuxico;
…………………….. 5) Sorriso de Cecinha.

Quem conhecer muito desse autor se lembra de Luzia no Frevo e no máximo mais dois ou três frevos. O restante ou está em mãos de grandes colecionadores ou só existem em partituras e nunca foram gravados. Acredito que Antônio Sapateiro, pela sua genialidade, não ficou somente na produção desses seis frevos. O mais importante, porém, é que Jacob do Bandolim amava Luzia no Frevo e a gravou. Que Sivuca amava Luzia no Frevo e a gravou. E que São Pixinguinha amava Luzia no Frevo e também a gravou. E da nova geração de grandes músicos, Antonio Nóbrega e Spok amam Luzia no Frevo e a gravaram também.

Abílio Neto,
(Abreu e Lima, PE)
(texto e pesquisa: Youtube e Overmundo)

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Dicionário Cravo Albim
da Música Popular Brasileira
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Antônio Sapateiro
(instrumentista e compositor)
Sua vida e obra são muito pouco conhecidas e mesmo a data de seu nascimento não é sabida. É possível que tenha nascido por volta de 1880 na cidade de Recife. Exerceu a profissão de sapateiro.

Viveu na cidade do Recife no momento da consolidação do frevo enquanto gênero musical. Ficaram registrados apenas cinco composições de sua autoria, todos elas frevos:

Em 1956, seus frevos “Recordação” e “Fuxico” foram gravados por Pão Duro no LP “Carnaval do Recife antigo – Fanfarra de clube” da gravadora Mocambo.

Em 1963, o frevo “Metralhadora pesada” foi gravado por Zaccarias e sua orquestra no LP “Frevo 63 – Zaccarias e sua orquestra” da RCA Victor.

Em 1976, o frevo de rua “Luzia no frevo” foi gravado no LP “Antologia do frevo” com a orquestra de José Menezes na gravadora Philips.

Em 1983, o instrumentista Sivuca, no LP “Forró e frevo – Nº 3”, gravou “Luzia no frevo” em disco da Copacabana.

Esse frevo ainda recebeu outra gravação, provavelmente na década de 1960, no LP “Carnaval do Nordeste Nº2 – Ademir Araújo e sua orquestra” da gravadora Mocambo.

Em 2002, o frevo “Luzia no frevo” foi gravada por Antônio Nóbrega no CD “Lunário perpétuo”. No encarte do CD se pode ler a seu respeito: “Frevo clássico pernambucano sempre gravado e tocado nas ruas recifenses. Desse grande compositor nordestino, sapateiro de profissão e músico por vocação.”

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Agradecimentos Especiais:
_ Abílio Neto (por sua clareza e organização de dados sobre nossa Cultura e Música);
_ Ricardo Cravo Albin (pela disponibilidade de dados sobre MPB);
_ Pixinguinha (por sua visão estética sobre a composição de Antônio Sapateiro);
_ Zacarias, Jacob do Bandolim, Sivuca e a Banda da PMPE por demonstrarem a versatilidade musical reconhecida por Pixinguinha e exercida por todos.

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Fonte:
https://dicionariompb.com.br/antonio-sapateiro

http://www.overmundo.com.br/perfis/abilio-neto 

Canal Youtube Abílio Neto  

http://www.overmundo.com.br/overblog/teria-sido-mestre-pixinguinha-um-amante-do-frevo-1

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……….  10ª atualização – 16/03/21